A maior organização criminosa do Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC), está sendo monitorada devido a suspeitas de envolvimento nas eleições de São Paulo. A Justiça tem dado atenção especial a essas possíveis conexões.
Segundo matéria do Valor Econômico, promotores de Justiça de São Paulo, que atuam no combate ao crime organizado, estão intensificando suas investigações neste ano, alertando sobre uma possível e perigosa mistura entre narcotráfico e política.
Ligação do PCC com a eleição de São Paulista
A orientação, que partiu da Procuradoria-Geral, serve como alerta para o risco de que integrantes do PCC financiem campanhas de candidatos a prefeito e vereador, visando obter, no futuro, benefícios públicos. Conforme a matéria, essas vantagens incluem contratos com empresas ligadas ao grupo criminoso.
Lincoln Gakiyo, promotor de justiça que integra o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público paulista, explica em entrevista ao Valor que “A preocupação da Procuradoria-Geral, principalmente depois das operações que foram feitas no mês passado, é em relação a eventual financiamento de campanha de candidatos a vereador e a prefeito por parte do crime organizado e, na sequência, evidentemente, a disputa e a captura de serviços públicos por integrantes do PCC”.
Atualmente com 57 anos, sendo 33 deles no Ministério Público, Gakiya é uma das principais autoridades no Brasil no combate ao PCC. Há 20 anos, ele estuda a evolução da facção, processa, pede a prisão de seus membros e adota medidas para enfraquecer a estrutura do grupo. Gakiya figura entre as autoridades juradas de morte pela organização.
No mês de abril, duas operações do Gaeco revelaram supostos esquemas envolvendo contratos do poder público com empresas acusadas de ligação com criminosos do PCC. Segundo promotores e policiais, essas empresas atuavam como lavanderias de dinheiro do crime e fontes extras de receita para os criminosos. Os dois casos aconteceram em cidades do Estado de São Paulo, onde a facção é mais forte.
PCC e sua influência
O envolvimento do PCC vai além de eleições e contratos públicos. Há mais de 30 anos, seja dentro ou fora dos presídios, o PCC se tornou, nas palavras de Gakiya, uma organização mafiosa, com tentáculos, influência e movimentação ilícita de ativos como nenhum outro grupo do crime organizado no Brasil, conforme destaca a matéria do Valor Econômico.
Além do solo paulista, há integrantes do PCC em todos os estados e no Distrito Federal, além de também marcarem presença em outros países da América do Sul e Europa.
Na perspectiva de Gakiya, a organização criminosa alcançou um nível em que o Brasil só conseguiria contê-la com colaboração internacional e recursos provenientes da Europa e dos Estados Unidos.
Venda de drogas para o exterior
O negócio principal do PCC é a venda de toneladas de cocaína para a Europa, adquirida na Bolívia, no Peru e na Colômbia, três dos maiores produtores globais da droga. Em maio, período em que a matéria do Valor Econômico foi produzida, Gakiya foi ao continente europeu, mais especificamente à Itália e à Alemanha, onde se reuniu com agentes públicos da área de segurança.
Foi explicado que, no fim de maio, ele deveria retornar à Itália para participar de um evento em memória ao juiz italiano Giovanni Falcone, assassinado nos anos 90 em um atentado encomendado pela máfia.
Baseando-se nas conversas com autoridades europeias, o promotor paulista reforça sua visão sobre a abrangência da organização. “Italianos, alemães, portugueses, espanhóis têm um interesse muito grande em entender o crescimento do papel do PCC no fornecimento de cocaína para a Europa. Era algo que inicialmente não preocupava, mas eles têm agora um receio muito grande de que a facção venha a crescer ainda mais nesses países e todos eles, sem exceção, já constataram a presença do PCC em associação com criminosos locais, sobretudo a Ndrangheta, da Itália, mas também com grupos criminosos albaneses, sérvios e africanos.”
*Com informações de Valor Econômico
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