Em uma época, não muito distante, as mulheres brasileiras sequer podiam votar, Alzira Soriano, com então 32 anos, fez história e não apenas votou como disputou e venceu as eleições municipais de Lajes, no Rio Grande Norte.
Alzira Soriano foi a primeira prefeita eleita não só no Brasil, como na América Latina. Assumiu seu cargo em 1º de janeiro de 1929. Na época viúva, disputou as eleições pelo Partido Republicano, se consagrando vencedora com 60% dos votos.
Sua indicação como candidata à Prefeitura de Lajes foi intermediada pela advogada feminista Bertha Lutz, uma das pioneiras do feminismo no Brasil.
O cientista político e professor da Unifesp, Antônio Sérgio Rocha explicou: “Foi uma proeza e tanto a eleição de uma mulher para prefeitura naqueles tempos de intensa misoginia. Ademais, a eleição dela implicou um desafio explícito ao marco jurídico da época, que vedava direitos políticos às mulheres”.
Porém, seu tempo como prefeita durou apenas sete meses.
Com a Revolução de 1930, Alzira perdeu o seu mandato por se posicionar contra o governo de Getúlio Vargas.
Conheça Alzira, a primeira prefeita do país
Alzira nasceu em um distrito de Lajes chamado Jardim de Angicos, no Rio Grande do Norte. Era filha de um influente líder político regional, com quem morou até casar, aos 17 anos. Seu marido era um promotor de justiça pernambucano chamado Thomaz Soriano, e com ele, Alzira teve quatro filhas.
Ficou viúva aos 22 anos, quando seu companheiro foi vitimado pela Gripe Espanhola, fato que a fez voltar a viver com seus pais na Fazenda Primavera, assumindo o comando da casa e da propriedade da família com mãos de ferro.
Ao se candidatar, precisou lidar com os diversos ataques misóginos durante sua campanha eleitoral.
Seu adversário ficou tão constrangido que encerrou sua carreira política, vindo a abandonar a própria cidade.
A vitória histórica de Alzira foi citada pelo jornal norte-americano The New York Times, na matéria “’Americanized’ Town Elects Brazil’s First Woman Mayor”, em 8 de setembro de 1928.
Importante destacar que durante seu mandato, Alzira Soriano promoveu grandes transformações na cidade, pois investiu na construção de escolas, mercados públicos, estradas e melhorou o abastecimento de iluminação pública a gás.
Alzira permaneceu no cargo até 1930, quando pela Revolução, todos os prefeitos do país foram substituídos por interventores.
Antes de deixar o cargo, Alzira visitou seus eleitores agradecendo o apoio.
Em várias ocasiões Alzira foi confrontada por opositores que cantavam versos ofensivos contra ela. Relatos da época mencionam um dos fatos: “deu-lhe tanto na cara que acabou quebrando os óculos dele.”
No entanto, mesmo sem o cargo, Alzira Soriano se manteve atuante, e em 1945, com a redemocratização do país, se candidatou ao cargo de vereadora de Lajes pela União Democrática Nacional (UDN), onde se manteve por mandatos sucessivos.
Alzira Soriano ficou conhecida pela sua força de enfrentar críticas e preconceitos durante toda trajetória pública, com uma competência e personalidade que a fizeram notável.
Por fim, importante ressaltar que Alzira só pôde se eleger graças à Lei Estadual 660, de 25 de outubro de 1927, que autorizava a participação das mulheres na política do Rio Grande do Norte.
De acordo com o Artigo 77 das Disposições Gerais do Capítulo XII: “No Rio Grande do Norte poderão votar e ser votados, sem distinção de sexos, todos os cidadãos que reunirem as condições exigidas por esta lei”.
